2ºAno A técnica

13/11/2017 19:35

Texto 1 – Razão instrumental

 

“No mundo esclarecido, a mitologia invadiu a esfera profana. A existência expurgada dos demônios e de seus descendentes conceituais assume em sua pura naturalidade o caráter numinoso que o mundo de outrora atribuía aos demônios. Sob o título de fatos brutos, a injustiça social da qual esses provêm é sacramentada hoje como algo eternamente intangível e isso com a mesma segurança com que o curandeiro se fazia sacrossanto sob a proteção de seus deuses. O preço da dominação não é meramente a alienação dos homens com relação aos objetos dominados; com a coisificação do espírito, as próprias relações dos homens foram enfeitiçadas, inclusive as relações de cada indivíduo consigo mesmo. Ele se reduz a um ponto nodal das reações e funções convencionais que se esperam dele como objetivo. O animismo havia dotado a coisa de uma alma, o industrialismo coisifica as almas. O aparelho econômico, antes mesmo do planejamento total, já provê espontaneamente as mercadorias dos valores que decidem sobre o comportamento dos homens. A partir do momento em que as mercadorias, com o fim do livre intercâmbio, perderam todas as suas qualidades econômicas, salvo seu caráter de fetiche, este se espalhou como uma paralisia sobre a vida da sociedade em todos os seus aspectos.” ADORNO, T. W.; HORKHEIMER, M. Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos.

Tradução Guido Antonio de Almeida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985. p. 35..

 

 

Texto 2 – Técnica e dominação

 

Com a modernidade, valorizou-­se sobremaneira o progresso técnico e a autonomia com relação à natureza e mesmo com relação aos outros homens, levando as pessoas a considerar a racionalidade como meio para atingir o progresso de forma individual. No entanto, no momento em que os homens buscam a autonomia, acabam sendo subordinados a uma racionalidade que não pretende fazê-­los progredir como homens, mas como objetos coisificados. Em suma, tornam-­se submissos à racionalidade técnica e ao objetivo de controle social e da natureza.

A razão instrumental refere-­se ao processo de conhecimento que pretende a domina­ção do mundo, que pretende o controle total da natureza. Pela razão instrumental, o conhecimento e a técnica assumem objetivos de controle e dominação dos homens sobre a natureza e dos homens entre si. É um ideal da modernidade a transformação da natureza e dos demais seres humanos em algo que se pode usar ou não. Não apenas a natureza, tudo se torna um objeto que se pode usar e descartar, inclusive os homens e as mulheres. Não se faz nada que não tenha um objetivo, uma função. Em tudo se pergunta: “Para que serve?” Tudo e todos têm uma utilidade. Tudo e todos são instrumentos.

Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.

 

Texto 1 – Heidegger e a técnica

 

O filósofo alemão Martin Heidegger considera como vida autêntica a do homem ou da mulher que buscam pensar o ser das coisas, que buscam o ser do mundo, que buscam perguntar sobre o que existe além da aparência. Nisso consiste a diferença com relação a todos os outros entes: homens e mulheres podem expressar o ser, podem pensa-­lo, podem perguntar sobre ele e questioná-­lo para além da aparência.

Do ponto de vista ético, essa diferença constitui para Heidegger a dignidade do ser humano e consiste, também, em uma forma sublime de existência. O que verdadeiramente diferencia o homem de todos os outros entes não é a busca de técnicas para poder sobreviver, como as abelhas e suas colmeias, os leões e suas caças, as aranhas e suas teias ou as plantas carnívoras e suas armadilhas. Entes vivem apenas conforme a relação de causa e efeito, tentando apenas conhecer o mundo e dele tirar sua sobrevivência; não fazem o salto mais sublime que consiste em perguntar pelo ser, desvelar o ser.

Pelas técnicas e pelas tecnologias, os entes e os que vivem de maneira inautêntica, sem se perguntar pelos seres das coisas, procuram suprir suas necessidades, e até mesmo criam formas tecnológicas de pensar. No entanto, as técnicas são apenas eficazes para pensar os entes e neles agir. Viver apenas sob o domínio do pensamento tecnológico levará todos ao esquecimento do ser e, portanto, ao esquecimento da própria essência sublime dos homens.

A essência do pensamento não se deve limitar aos raciocínios simplórios, como aqueles que apenas resolvem problemas passageiros, pensamentos maquínicos, como um motor ou uma ferramenta.

Mas será que todos nós nos resumimos a problemas e soluções? O que poderíamos pensar além disso? O que poderíamos vivenciar além das ideias submetidas a interesses muito simples? Quais novas formas de pensar ainda não experimentamos? Quais limites ainda não superamos? Como revelar o ser em nossa vida cotidiana?

Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola

 

O próximo texto é do próprio Heidegger.

 

Texto 2

“Estamos ainda longe de pensar, com suficiente radicalidade, a essência do agir. Conhecemos o agir apenas como o produzir de um efeito. Sua realidade efetiva é avaliada segundo a utilidade que oferece. Mas a essência do agir é o consumar. Consumar significa: desdobrar alguma coisa até a plenitude de sua essência; leva-­la à plenitude, producere. Por isso, apenas pode ser consumado, em sentido próprio, aquilo que já é. O que todavia ‘é’, antes de tudo, é o ser. Pensar consuma a relação do ser com a essência dos homens e das mulheres. O pensar não produz nem efetua esta relação. Ele apenas oferece-­a ao ser, como aquilo que a ele próprio foi confiado pelo ser. Esta oferta consiste no fato de, no pensar o ser, ter acesso à linguagem. A linguagem é a casa do ser. Nesta habitação do ser mora o homem. Os pensadores e os poetas são os guardas desta habitação. A guarda que exercem é o consumar a manifestação do ser, na medida em que levam à linguagem e nela a conservam. Não é por ele irradiar um efeito ou por ser aplicado que o pensar se transforma em ação. O pensar age enquanto se exerce como pensar. Este agir é provavelmente o mais singelo e, ao mesmo tempo, o mais elevado, porque interessa à relação do ser com o homem. Toda eficácia, porém, funda-­se no ser e se espraia sobre o ente; o pensar, pelo contrário, deixa-­se requisitar pelo ser para dizer a verdade do ser. O pensar consuma este deixar.

[...]

 Caso o homem encontre, ainda uma vez, o caminho para a proximidade do ser, então deve antes aprender a existir no inefável. Terá que reconhecer, de maneira igual, tanto a sedução pela opinião pública quanto a impotência do que é privado. Antes de falar, o homem deve novamente escutar, primeiro o apelo do ser, sob risco de, dócil a este apelo, pouco ou raramente algo lhe restar a dizer. Somente assim será devolvido à palavra o valor de sua essência e o homem será gratificado com a devolução da habitação para o residir na verdade do ser.” HEIDEGGER, Martin. Conferências e escritos filosóficos.

Tradução e notas Ernildo Stein. São Paulo: Nova Cultural, 1979. p. 149 e 152

 

 

Atividade

 

1- Explique como o avanço da tecnica teve impacto na vida das pessoas nas sociedades contemporâneas. Utilize ideias e conceitos do texto.

Observação: Aponte aspectos negativos e positivos da técnica