Filosofia Platônica - uma breve abordagem

11/08/2020 17:00

Objetivos dessa postagem:

Disponibilizarei aqui dois breves trechos de textos sobre a Filosofia Platônica. O objetivo é apoiar o estudo de quem deseja compreender um pouco mais das ideias de Platão, sobretudo, no que diz respeito à sua concepção de conhecimento e de ética que, nesse caso, se imbricam.

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Platão

Alicerces da filosofia ocidental nascido em Atenas, Platão (427-347 a.C.) pertencia a uma das mais nobres famílias atenienses. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, devido a sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego que significa “de ombros largos”. Foi discípulo de Sócrates, a quem considerava o mais sábio e o mais justo dos homens. Depois da morte de seu mestre, Platão empreendeu inúmeras viagens, período em que ampliou seus horizontes culturais e amadureceu suas reflexões filosóficas. Por volta de 387 a.C. retornou a Atenas, onde fundou sua própria escola filosófica, a Academia, nos jardins construídos por seu amigo Academus.
A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por intermédio da fala de Sócrates nos diálogos socráticos, escritos pelo próprio Platão. Seu pensamento é tão vasto e sua influência tão importante que deram origem a uma expressão famosa: “toda filosofia ocidental são notas de rodapé a Platão”. Vejamos algumas concepções de suas teorias sobre a realidade, o conhecimento e a política.

 

 

Dualismo platônico

 

Como grande parte dos pensadores de sua época, Platão também enfrentou o impasse criado pelos pensamentos de Parmênides e heráclito, ou seja, sobre o problema da permanência e da mudança, da unidade e da multiplicidade (conforme vimos no capítulo anterior).

 

Em sua doutrina, conhecida como teoria das ideias, Platão procurou resolver esse impasse propondo uma ontologia dualista. Assim, para ele existiriam duas realidades diametralmente opostas:
Mundo sensível (kósmos horatós, em grego) corresponde à matéria e compõe-se das coisas como as percebemos na vida cotidiana (isto é, pelas sensações), as quais surgem e desaparecem continuamente. Assim, as coisas e fatos do mundo sensível são temporárias, mutáveis e corruptíveis (o mundo de heráclito);
Mundo inteligível (kósmos noetós, em grego) corresponde às ideias, que são sempre as mesmas para o intelecto, de tal maneira que nos permitem experimentar a dimensão do eterno, do imutável, do perfeito (o mundo de Parmênides). todas as ideias derivariam da ideia do bem.
Observe que a concepção dualista de Platão também conhecida como teoria das ideias opera uma mudança radical em relação aos pensadores anteriores ao situar o ser verdadeiro fora ou separado do mundo sensível. isso não ocorria nos filósofos pré-socráticos, que buscavam a arché das coisas nas próprias coisas, nem em Sócrates, para quem a essência ou o ser verdadeiro também se encontrava nas coisas (como vimos no capítulo 3). Isso significa que para esses filósofos o ser verdadeiro é imanente, isto é, encontra-se neste mundo ou se confunde com ele, enquanto para Platão é transcendente, ou seja, encontra-se separado dele.
 

Processo de Conhecimento:

A teoria das ideias também costuma ser estudada em seus aspectos epistemológicos, como teoria do conhecimento. isso porque nessa doutrina Platão propõe que conhecer a verdade implica um processo de passagem progressiva do mundo sensível (das sombras e aparências) para o mundo das ideias (das essências ou seres verdadeiros).
A primeira etapa desse processo é dominada pelas impressões ou sensações advindas dos sentidos. essas impressões sensíveis são responsáveis pela opinião (doxa) que temos da realidade, isto é, o saber que se adquire sem uma busca metódica.
O conhecimento, porém, para ser autêntico, deve ultrapassar a esfera das impressões sensoriais, o plano da opinião, e penetrar na esfera racional da sabedoria, o mundo das ideias. Para atingir esse mundo, o ser humano não pode ter apenas “amor às opiniões” (filodoxia); precisa possuir um “amor ao saber” (filosofia).
O método proposto por Platão para realizar essa passagem e atingir o conhecimento autêntico (epistéme) é a dialética. equivalente aos diálogos críticos de Sócrates, a dialética socrático-platônica consiste, basicamente, na contraposição de uma opinião à crítica que podemos fazer dela, ou seja, na afirmação de uma tese qualquer seguida de uma discussão e negação dessa tese, com o objetivo de purificá-la dos erros e equívocos, permitindo uma ascensão até as ideias verdadeiras.
Pela explicação de Platão, nesse processo vamos recordando as verdades eternas e imutáveis que já haviam sido contempladas por nossa alma no mundo das ideias, antes de nossa existência material. isso quer dizer que o conhecimento verdadeiro (epistéme), para ele, é uma imagem do passado, uma reminiscência da alma. Portanto, temos uma concepção gnosiológica inatista.
Fonte: Cotrim, Gilberto. Fundamentos de filosofia/Gilberto Cotrim, Mirna Fernandes. -- 4. ed. -- São Paulo : Saraiva, 2016.

O Mito da Caverna

Imaginemos, escreve Platão, uma caverna separada do mundo exterior por um muro baixo. Entre esse muro e o teto da caverna há uma fresta por onde passa alguma luz externa, evitando que o interior fique na obscuridade completa. Desde seu nascimento, geração após geração, seres humanos estão acorrentados ali, sem poder mover a cabeça na direção da entrada nem se locomover até ela, forçados a olhar apenas a parede do fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do Sol. Estão quase no escuro e imobilizados.
Do outro lado do muro, mas ainda dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que ali se passam sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo da caverna (pensemos na caverna como se fosse uma sala de cinema e o fogo, a luz de um projetor de filmes).
Entre o fogo e o muro, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres, animais cujas sombras são projetadas na parede da caverna. Nunca tendo visto o mundo exterior, os prisioneiros julgam que as sombras das coisas transportadas e os sons das falas das pessoas são as próprias coisas externas. Ou seja, julgam que as sombras são seres vivos que se movem e falam.
Os prisioneiros se comunicam, dando nome às coisas q
ue julgam ver (sem vê-las realmente, pois estão na obscuridade), e imaginam que o que escutam, e que não sabem que são sons vindos de fora, são as vozes das próprias sombras dos artefatos, e não dos seres humanos que os carregam e se encontram do outro lado do muro.
Qual é, pois, a situação dessas pessoas aprisiona das? Tomam sombras por realidade. Essa confusão, porém, não tem como causa um defeito na natureza dos prisioneiros, e sim as condições adversas em que se encontram. Que aconteceria se eles fossem liberta dos dessa situação miserável?
Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandonar a caverna. Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. De início, move a cabeça; depois, o corpo todo; a seguir, avança na direção da saída da caverna e escala o muro. Enfrentando as durezas de um caminho íngreme e difícil, sai da caverna. No primeiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do Sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos pela luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna. Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento.
Incredulidade, porque será obrigado a decidir sobre onde se encontra a realidade: no que vê agora ou nas sombras em que sempre viveu? Deslumbramento (literalmente: ‘ferido pela luz’), porque seus olhos não conseguem ver com nitidez as coisas iluminadas.
Seu primeiro impulso é retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto, atraído pela escuridão, que lhe parece mais acolhedora. Como precisa aprender a ver, e esse aprendizado é doloroso, desejará a caverna, onde tudo lhe é familiar e conhecido.
Sentindo-se sem disposição para regressar à caverna por causa da rudeza do caminho, o prisioneiro permanece no exterior. Aos poucos, habitua-se à luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, tem a felicidade de finalmente ver as coisas como elas realmente são, descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira apenas sombras. A partir desse instante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as suas forças para jamais retornar a ela. Mas lamenta a sorte dos outros prisioneiros. Por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também.
O que lhe acontece nesse retorno? Os demais prisioneiros zombam dele, não acreditando em suas palavras. Se não conseguirem silenciá-lo com suas caçoadas, tentarão fazê-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teimar em afirmar o que viu e os convidar a sair da caverna, certamente acabarão por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderão ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidir sair da caverna rumo à realidade?
O que é a caverna? O mundo de aparências em que vivemos. O que são as sombras projetadas no fundo? As coisas que percebemos. O que são os grilhões e as correntes? Nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de que o que estamos percebendo é a realidade. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz do Sol? A luz da verdade. O que é o mundo iluminado pelo sol da verdade? A realidade. Qual é o instrumento que liberta o prisioneiro rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A filosofia.
 
Fonte: Chaui, Marilena. Iniciação à filosofia : ensino médio, volume único, 2. ed. – São Paulo : Ática, 2013.
 

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AVALIAÇÃO DE FILOSOFIA: ÉTICA PLATÔNICA

 

2º Ano A: Avaliação de Filosofia

2º Ano B: Avaliação de Filosofia

  2º Ano C: Avaliação de Filosofia

2º Ano D: Avaliação de Filosofia